Visitei esse charme de cidade em maio do ano passado, já no final da minha estadia em Paris. Fiz um bate-e-volta, para aproveitar o feriado de ascensão de Jesus, pois ela fica a apenas 30 km de Paris. Nos dias feriados e finais de semana, há trem direto, saindo da Gare du Nord, as 9h38, e retornando as 18h25. Mas, nos demais dias pode-se pegar um trem para Pontoise, sair da Gare Saint-Lazare ou Gare du Nord, e chegando em Pontoise, mudar de direção para Persan-Beaumont. Deu vontade de revisitá-la agora, depois de ter assistido uma maravilhosa palestra do pintor holandês, Roberto Ploeg, sobre Van Gogh, por quem sou apaixonada. Ploeg é da mesma região de Van Gogh, no sul da Holanda, e forneceu uma visão do pintor, própria de um conterrâneo. Através de sua exposição, pudemos ver como os costumes da região, foram determinantes, também, na formação da personalidade de Van Gogh, e em sua pintura.
Antes de Van Gogh, outros pintores já haviam sido seduzidos pelo charme e paz da cidade, preservados até hoje. Situada às margens do rio Oise, com seu aspecto medieval, lindas paisagens, ruelas e campos de trigo, serviu de inspiração para Daubiggny, Cézanne, Monet e Pissarro. Era lá, que vivia Dr. Gachet, médico psiquiatra e amante das artes, amigo desses mesmos artistas impressionistas, os quais costumava receber em sua residência. Foi a pedido de Théo, irmão de Van Gogh, que Pissarro, fez contato com Dr. Gachet, para ajudar o pintor a encontrar um lugar para morar, e poder assistí-lo. Van Gogh estava saindo de uma internação no asilo de Saint-Rèmy e buscava um local tranquilo para se recuperar. E é assim que ele descreve o vilarejo em carta a Théo, de 20/05/1890, “É o verdadeiro campo, característico e pitoresco”
Durante sua curta estadia de 70 dias na cidade, Van Gogh, pintou mais de 70 telas, e algumas delas estão reproduzidas nos locais que lhe serviram de inspiração. É uma sensação indescritível, imaginá-lo ali, pintando aquelas paisagens.
Assim que cheguei, fui direto ao posto de informações turísticas, e lá soube que haveria uma visita guiada, pelos principais pontos turísticos, às 14:00h. Achei que não valeria a pena esperar, já que a cidade era tão pequena, que daria para percorrê-la apenas seguindo as informações do mapa.

Comecei pela casa onde Van Gogh viveu e morreu, o Auberge Ravoux, porque era quase vizinho do local onde eu estava, no centro da cidade. Hoje é um museu, em cima e restaurante em baixo. A visita custa 6 euros, nela incluída, um video e uma visita ao quarto dele.


Era nesse quarto simples, que vivia Van Gogh, nos últimos meses de vida. Pagava o aluguel de 3,5 francos por mês, porque era tudo que ele podia pagar, com ajuda que recebia de Théo. Ficava no último andar do Auberge, no sótão, nas dependências reservadas aos empregados, (femme de ménage) e tinha apenas 7m2.
Depois da morte de Van Gogh, o
quarto não foi mais alugado. Atualmente, está vazio, apenas a cadeira e o armário permanecem do mobiliário original.
No quarto ao lado, porém encontram-se réplicas do restante dos móveis. Existe um pequeno lavabo na parede oposta a clarabóia.
Depois do Auberge, iniciei meu tour pelos caminhos de Van Gogh, passando pela Igreja, campos de trigo, cemitério, até voltar ao centro, para o almoço.

Tive certa dificuldade para encontrar um lugar para almoçar. Ao chegar dos campos avistei o Le Cordeville, um restaurante super simpático, mas estava cheio e não havia feito reserva. Foi quando percebi, que estava com problemas, pois todos os restaurantes estavam lotados, já que a cidade é muito pequena. Mas, finalmente, consegui encontrar um que tinha minha refeição preferida na França, pato e vinho da casa.
Depois do almoço, fui para o outro lado da cidade, direto para casa do Dr. Gachet, a 20 minutos de caminhada. Não conseguia deixar de pensar que Van Gogh, havia feito aquele mesmo caminho inúmeras vezes.


Na volta passei pelo Château d’Auvers e Musée de l’Absinthe



Apesar de pequena, Auvers-sur-Oise, tem muito para se ver, mas, infelizmente não deu para ver tudo. A Maison-Atelier de Daubigny, já estava fechada, o jeito foi voltar para a estação. para não perder o trem de volta para Paris.
Seu trabalho aqui ficou maravilhoso! Gratidão por tanta doçura e encanto por nos apresentar um pouco deste nosso gênio.
Que bom que gostou Amanda, como disse acima, sou apaixonada por Van Gogh!
Eu também sou apaixonada por ele. Inclusive estive em Amsterdã para conhecer o museu em homenagem a ele. Fiz um poema um pouco inspirada nas informações do seu blogue:
O coração de lápis-lazúli
Nascida das águas
toco a minha harpa de mil cordas
na região onde os silêncios moram…
Caminhando nua em jardins abandonados:
uma realidade interior…
…pinturas de areia
Domino o ritmo das estações
pouco a pouco…
Mas às vezes eu fico confusa sobre ti,
não vejo teu rosto
te procuro
Só vejo a nuvem fina de água e
um coração grande de lápis-lazúli acende a
luz no fundo do tanque com
peixinhos de geléia…
Se algo der errado (tenho medo disto),
pegue um trem para Auvers-sur-Oise, eu estarei lá
Nos feriados e finais de semana, é possível sair da Gare du Nord, as 9h38
É um caminho de pedras e verduras…
tu encontras casas antigas, com janelas verdes
Algumas delas têm chaminés e balões de gás
Há também uma herdade… Muitos pintores foram seduzidos por esta cidade
Eu não sei se um dia nós vamos estar juntos, porque tudo
É tão vago… tão belo…
Às vezes em pensamento, seguro tua mão no silêncio… eu sei
que temos algo em comum e que nos aproxima e atrai…
Mas tudo é tão tênue
O coração de lápis-lazúli não pode ficar sempre no tanque de água. À noite ele deve ficar à luz do luar. Super seven, citrino ou granada são outras pedras que o fortalecem…
Há um campo de tulipas perto de Lisse (eu também estou lá)
Que poema lindo Amanda, e que honra ter ajudado na inspiração! Não respondi antes porque estive viajando por quase dois meses e o blog, bem como as leituras ficaram meio largados!