
Quando decidimos viajar para Cuba, eu já sabia que Hemingway havia morado lá, tinha visto no filme Hemingway & Gellhorn. Para conhecer mais sobre a estadia em Cuba, comprei o livro Hemingway em Cuba, do jornalista cubano, Norberto Fuentes. Hemingway se mudou de Key West para lá em 1938. Primeiro alugou a propriedade de Finca Vigía, e depois comprou-a com os royalties recebidos pela adaptação cinematográfica de Por quem os sinos dobram?.
Mas antes de se mudar para a Finca Vigía, Hemingway, costumava se hospedar no Hotel Ambos Mundos toda vez que ía a Havana. Ele havia visitado Havana pela primeira vez em abril de 1928, numa escala de 48 horas, vindo de La Rochelle, França, para Cayo Hueso, Key West, na Flórida. Sua primeira viagem a Cuba, foi em 1932, para pescar o peixe-espada, e desde então foram inúmeras idas e vindas, até se mudar de vez. Além de pescar, escrever, Hemingway, bebia muito e tinha seus locais preferidos, para beber e encontrar os amigos, como a Floridita, e Bodeguita del Médio. E eu, claro, não podia deixar de visitar todos esses lugares que fizeram parte da vida de Hemingway, sendo que muitos desses, estão imortalizados em seus livros.
Um dos quartos, dos quais Hemingway costumava se hospedar, está isolado e aberto a visitações. Segundo a guia, ele se hospedou em vários quartos, mas aquele era o seu preferido, por causa da vista. Deu trabalho para entrar no quarto, por 3 vezes estivemos lá e estava fechado. A primeira vez porque era domingo, e as outras duas, porque perdemos a hora, pois como falei antes, o sol demora a se pôr em Cuba, e o quarto só fica aberto a visitações até as 17:00. Conhecemos, o hall, e o terraço no último andar, com uma vista deslumbrante, isso em cada uma das vezes que fomos, mas o quarto mesmo, só no último dia, porque aí já era uma questão de honra, não tinha como sair de Havana, sem visitar o quarto.



Hemingway costumava apreciar essa paisagem, ficava ali sentado com o copo de uísque, vendo a noite cair. Essa paisagem está descrita na crônica “A pesca da Agulha na Altura do Morro”
Nove quadras separam o Ambos Mundos do Floridita, e durante 10 anos este foi um trajeto muito utilizado por Hemingway. Era comum vê-lo, caminhando pela Rua Obispo em direção ao Floridita, sempre trajando sapatos de lona, camisa de algodão e bermudas cáqui desbotadas. O Floridita, já era famoso, muito antes de Hemingway, já existia há quase um século, quando mudou o nome de Piña de Plata para Floridita, entre 1898-1902. Ao longo dos anos 40, reuniam-se no Floridita, ao meio-dia em ponto, importantes personalidades da vida cubana, e políticos. Mas, não restam dúvidas que Hemingway contribuiu para o seu prestígio. Quando ele recebeu o Premio Nobel em 1954, fizeram um busto de bronze, e após a estatização do Floridita, os garçons e administradores proibiram o público de sentar no seu banquinho, embaixo da estátua.
É uma sensação mágica, entrar no Floridita, com todo aquele burburinho, a animação da música, e a volta ao passado. Comandamos nossas daiquirís e brindamos a Cuba.
BODEGUITA DEL MÉDIO
Fica perto da Praça da Catedral, chegamos lá guiados pela música, e pela agitação, parecia uma festa, então vimos o famoso nome. É um lugar bem apertadinho, cheio de fotografias e de milhares de assinaturas dos clientes nas paredes. E então, no meio daquele mundo de assinaturas, incluindo as de Salvador Allende, Ingar Ibsen, coloquei a minha! Ernest Hemingway apareceu por lá nos anos 40. Dizem que foi por essa época que ele disse a frase que preside o balcão: “Meu daiquirí no Floridita, Mi mojito in la Bodeguita“. Vale a pena tomar um mojito no Bodeguita, e fazer parte de sua história por alguns instantes, e sem contar que o drink é delicioso!
FINCA VIGÍA
Foi nessa propriedade que Hemingway morou por mais de 20 anos, num casarão rústico, em San Francisco de Paula, a uns 15km de Havana. Era o refúgio, onde escrevia pelas manhãs, lia as tardes, recebia amigos, criava gatos, cachorros e tinha uma criação especial de galos de briga. Após sua morte em 1961, foi doado por sua viúva a Cuba e foi transformado em museu.
Enquanto programava a viagem já tinha decidido que queria visitar Finca Vigía, então dona Cândida providenciou um taxista conhecido seu, Luis, para nos levar. O carro era um Lada, caindo aos pedaços, que parou duas vezes uma na ida e outra na volta. Na hora fiquei tensa, e constrangida pelo taxista, que era super gente boa. E enquanto ele tentava fazer o carro pegar eu me tranquilizava, pensando, estou indo conhecer a casa de Hemingway. Imagine a decepção quando chegamos e descobrimos que estava fechado por que era domingo.Fiquei arrasada! Então me lembrei do livro de Norberto, sobre a praia que ele costumava pescar. E assim, pedimos a Luis para nos levar, para Cojimar!

COJIMAR
Essa pequena vila de pescadores a leste de Havana, foi cenário de vários contos de Heminway, e onde ele conheceu o pescador Gregório Fuentes, o velho Santiago, do livro “O Velho e o Mar. Era lá que ficava ancorado o seu iate “Pilar”, que tinha como capitão o velho Gregório. Ele também era adorado pelos pescadores, que o chamavam de “Papa”, e rasparam o bronze dos próprios barcos para fazer o busto do escritor quando ele morreu.
O busto de Hemingway está ali no meio do coreto. Esse carro é o nosso velho Lada, e ali sentados a direita do coreto, estavam dois amigos tocando violão. Os meninos foram chegando junto e logo, logo, já eram “best” e tocando junto com eles. Fiz um vídeo, ficou meio torto, mas dá para se ter uma idéia do clima.
E antes de dizer adeus a Cojimar, um “mojito” para refrescar!