“O sino bate,
o condutor apita o apito,
Solta o trem de ferro um grito,
põe-se logo a caminhar…
— Vou danado pra Catende,
vou danado pra Catende,
vou danado pra Catende
com vontade de chegar…”
Mergulham mocambos
nos mangues molhados ,
moleques mulatos,
vem vê-lo passar.
— Adeus!
— Adeus!
Mangueiras, coqueiros,
cajueiros em flor,
cajueiros com frutos
já bons de chupar…
— Adeus, morena do cabelo cacheado!
— Vou danado pra Catende,
vou danado pra Catende,
vou danado pra Catende
com vontade de chegar…
………………………………………
(Trem de Alagoas, de Ascenso Ferreira)
O Trem pode ser de Alagoas, mas é pra Catende que ele vai danado. Alceu Valença também foi danado pra Catende, com alguns versos do poema de Ascenso Ferreira, na sua música “Vou danado pra Catende”. E foi para lá que eu me danei, cheia de vontade de chegar e dar vida aos meus ancestrais. E lá está ela, a 142 km de Recife, na mesorregião da Mata Pernambucana, cheia de mistérios para mim, uma vez que guarda todos os segredos do meu povo. E eu tenho muitos deles, repousando por lá, e outros aqui, mas que vieram de lá. Este é um novo projeto, trazê-los de volta a vida para possibilitar o encontro. E devido a importância da cidade, na formação da família da minha mãe, tinha que começar por lá, até então desconhecida para mim. Nessa primeira visita, fiz apenas um bate e volta.

Catende, hoje, é uma pequena cidade no interior de Pernambuco, com população aproximada de 41.865 habitantes, mas teve sua importância, na época em que Pernambuco era o maior produtor e exportador de açúcar, possuindo mais de 2500 engenhos. Desses engenhos, 490 forneciam cana às usinas dos engenhos Centrais. Catende abrigava a Usina Catende, que chegou a ser considerada, em 1929, a maior Usina do Brasil em produção e capacidade.
O início de tudo, foi quando D. Pedro II, doou parte das terras da região, que haviam sido divididas em sesmarias, ao senador Álvaro Barbalho Uchoa Cavalcanti. Ele não as ocupou e foi vendendo ao longo dos anos, originando assim os primeiros sítios e engenhos de cana-de-açúcar. Os registros dos primeiros povoados datam de 21 de outubro de 1863, a partir da presença do capitão Levino do Rêgo Barros, que também foi responsável por trazer a estrada de ferro do sul e Pernambuco para a região. Meus ancestrais foram contemporâneos de Levino.

A cidade se desenvolveu em torno do engenho de açúcar Milagre da Conceição, no distrito criado em 1892, pertencente ao município de Palmares. Esse engenho, mais tarde se tornaria a Usina Catende. O município foi emancipado de Palmares, em 11 de setembro de 1928.

Do lado esquerdo do trilho, se encontra a praça, onde está localizada a sede da Prefeitura, o cinema, que hoje não se encontra em bom estado, e algum comércio e residências.


Como falei acima, esta primeira visita, foi apenas um bate-e-volta, quase um visita turística. Mas outras virão, até ter a história nas mãos, e a primeira já está agendada. E foi o imigrante, que deu nome a essa rua, um dos que iniciou essa descendência, da qual faço parte.
