Lituânia

                41Vfww6rZiL (1)Nesse país, não segui a escolha do #198 livros, por não ter me empolgado nem com o tema, e nem com o estilo do escritor, que me pareceu denso. Não foi fácil encontrar outro livro, primeiro porque a literatura lituana ficou meio estagnada no período de domínio da Rússia. Segundo Mariana Butenschön, metade dos escritores fugiram dos russos para o ocidente, ficando no país somente aqueles que eram fieis a Moscou e os poetas que tentavam expressar suas críticas nas entrelinhas. Após a suspensão da censura em 1989 e o retorno dos escritores que se encontravam fora do país, a literatura voltou a renascer. Ricardas Gavelis, Jurga Ivanauskaite, Renata Serelyte e Jurgis Kuncinas, são alguns da nova geração de escritores lituanos, porém a dificuldade de ter acesso aos livros traduzidos tornou inviável a pretensão de leitura de escritores contemporâneos (Tive muita vontade de ler Tüla, de Jurgis Kuncinas, mas não consegui o livro). Finalmente, a pesquisa rendeu algum fruto, encontrei por meio da tradutora Elizabeth Novickas, o livro de Kazys Boruta, Whitehorn’s Windmill, e para compensar o trabalho dispendido na pesquisa, encontrei o livro em edição Kindle.

                Kazys Boruta nasceu (1905-1965) num período particularmente tumultuado do seu país, tendo vivido a maior parte de sua vida no exílio ou na prisão, a começar em 1915, quando seus pais fugiram da Lituânia para escapar da invasão da primeira guerra mundial. Nascido durante a dominação Czarista vivenciou pouco a independência do país, entre as duas guerras mundiais. Suas convicções políticas de esquerda fizeram com que fosse preso, e exilado, e sua obra proibida. Depois que os soviéticos expulsaram os alemães, assumindo o controle do país, Boruta ainda ficou preso por três anos. E mesmo tendo sido solto, ficou recluso, limitando seu trabalho, nos dez anos subsequentes, a traduções, publicadas sobre pseudônimo.

                Apesar de não ser uma literatura contemporânea, Whitehorn’s Windmill foi escrito em 1942, durante a ocupação nazista, é bem representativo da literatura da Lituania, tendo se tornado um clássico. Em 1957, foi adaptado para o teatro; em 1974, para um filme musical (The Devil’s Bride), e em 1979, para o ballet. Escrito numa linguagem lírica, mistura a fantasia dos contos de fada com a dura realidade trazida pelos personagens.  Esse antagonismo, só fui perceber, ao contar as histórias dos contos de fadas para os meus filhos e ver como eram cruéis. Decidi então suavizar um pouco as maldades, na hora de repassar para os meninos, mas ao mencionar na escola o que estava fazendo, fui criticada pelos professores. Foram veementes ao explicar que, era importante para as crianças vivenciar a dura realidade dos contos de fadas, para aprender a lidar com a frustação. E é isso que Boruta nos passa na sua história juvenil, um romance com muitos ingredientes reais e imaginários, o diabo com características humanas e que é enganado, humanos que fazem pacto com o diabo para realização dos desejos. Ninguém é santo no livro de Boruta.

               A história é ambientada no pequeno vilarejo de Svendubré, na terra de Paudruvë , região rural da Lituânia, e conta a história de Whitehorn, o proprietário do moinho, sua linda filha Jurga, e de todos que se envolvem com eles, como Pincukas, o diabo que vive em um pântano, Ursule’s prima distante de Whitehorn, que nunca desistiu de se casar com ele, Jurgutis o aprendiz de ferreiro que se apaixona por Jurga, Blackpool, o ferreiro vizinho, Girdvainis, que vai tentar vencer o feitiço e chegar até Jurga. No início da história, vemos vários pretendentes, acompanhados de seus padrinhos, como é o costume, tentar chegarem à casa de Jurga, para pedi-la em casamento. Nenhum deles, no entanto é bem sucedido, porque estranhos acontecimentos impedem que eles se aproximem do moinho, e da casa dela. Para entender e situar todos os personagens o autor volta ao passado de Whitehorn, antes de prosseguir com o desenrolar da história, mágica, romântica, burlesca e trágica, como, aliás, costumam ser todos os contos de fadas. Sem dúvida uma agradável leitura, que vale a pena conhecer.

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