Um dos legados de minha passagem pelo Marrocos, através do livro “Au pays”,do autor Tahar Ben Jelloun, foi finalmente(confesso) descobrir a definição de “magreb”, que até então, não era clara para mim. Em árabe significa “poente”. Trata-se da região noroeste da África, do qual fazem parte o Marrocos, Saara Ocidental, Argélia e Tunísia, chamada de “Pequeno Magreb” ou “Magreb Central”. O Grande Magreb inclui ainda a Mauritânica e a Líbia. O árabe e o berbere são os idiomas mais falados, ao lado das línguas de herança colonial, francês na Argélia e Marrocos, inglês e italiano na Líbia. Essa região também faz parte, junto com o Egito, da chamada “África branca”. Essa distinção da região é mencionada em uma passagem do livro, quando Mohamed, o protagonista, que é magrebino, comenta a desordem provocada pela chegada em massa dos novos imigrantes africanos, pois a mistura de magrebinos e africanos provocava insultos racistas dos dois lados, e brigas entre adolescentes, sem que ele soubesse se o racismo se devia a extrema pobreza ou a cor da pele.
Au Pays, narra a história de Mohamed, um marroquino que vivia em um pequeno e pobre vilarejo no interior do Marrocos, até emigrar para a França. Isso há cerca de 40 anos, na época em que a política oficial do governo francês, era recrutar nas colônias ultramarinas os trabalhadores braçais. Eles eram necessários para suprir a escassez de mão-de-obra, causada pelas duas guerras mundiais, e possibilitar a expansão da economia. Mohamed está atormentado, com a proximidade da aposentadoria, já que não fez nenhum planejamento, e foi testemunha da amargura que se abateu sobre os colegas, que vivenciaram a mesma situação, que ele está prestes a viver. Ele narra, que é uma pessoa triste desde que chegou à França, assim como todos os magrebinos, imigrantes como ele. Na verdade, ele nunca se adaptou ao novo país, viveu sempre de acordo com a sua religião islâmica, e seus costumes, sem se permitir sequer falar o idioma do país, apesar de ser capaz de entender, principalmente porque os filhos só se comunicavam em francês. Ao contrário de Mohamed, seus cinco filhos se consideram franceses e não se identificam com suas raízes árabes, o que o deixa muito triste, achando que perdeu os filhos para a França. Ele se considera feliz no casamento, e se orgulha de nunca ter discutido com a esposa, o que se mostra razoável, já que também não conversa com ela. Como se pode ver, o trabalho e a rotina na fábrica são seu referencial, e a única razão lógica de continuar a viver na França. Sem o trabalho, ele sabe que será difícil continuar vivendo lá, e assim, deseja voltar ao Marrocos, e terminar seus dias em sua terra natal. Quando os filhos eram menores, ele costumava viajar para o Marrocos nas férias, sempre nos mesmos períodos e permaneciam todo o tempo no vilarejo. Agora se ressente, deveria ter mostrado todo o pais para os filhos, para que eles pudessem de fato conhecer o Marrocos, sua beleza, diversidade e seus habitantes. E é isso que decide fazer, mostrar o Marrocos para eles, e sabendo que têm períodos de férias diferentes, a viagem terá que ser feita em duas ou três vezes. Tem então a idéia de construir uma grande casa, para poder abrigar toda a sua família, e assim poderem ficar juntos.
É uma história muito triste, dá uma angústia ver a solidão de Mahomed, e ao mesmo tempo raiva, ao ver sua incapacidade de reagir a vida. Não deixa de ser uma crítica do autor, a situação dos imigrantes na França, a uma falta de política de integração da população muçulmana e negra à sua economia e cultura.
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