Todo meu contato com a literatura argeliana, se resumia ao escritor Albert Camus, do qual li primeiramente “A Peste”, e depois o “L´Étranger”, sendo este, o primeiro livro que li em francês. Em relação a história do país, tirando o fato de haver sido colonizada pela França, o que pressupõe uma provável luta pela independência, o meu conhecimento era nulo. De forma que, não estava preparada para a tumultuada e violenta história da Argélia, da forma como a vivenciamos no romance de Anouar Benmalek , Les Amants désunis. Como, ele falou em recente entrevista, sempre foi apaixonado por esse tipo de literatura que confronta os personagens ordinários com as grandes destruições da história. Na Argélia, primeiramente, houve a guerra travada pela independência, em seguida, o roubo da democracia pelos militares, seguidos pelo terror islamita com seus 200 mil mortos, e os conflitos com o Oriente-Médio, intermináveis e desesperançosos.
Em 1955, a Argélia está em plena luta pela independência, e Anna e Nassreddine, são vítimas de uma tragédia, que transformará suas vidas. Durante a viagem de volta para casa, vindos de Alger, onde foram regularizar os papéis de casamento, Nassreddine é feito prisioneiro, e torturado. A Frente de Libertação Nacional(FLN), desconfiando que ele os havia traído, assassinam os dois filhos, e ela por ser estrangeira, é deportada. Quarenta anos depois, Anna, deixa sua vida na Suiça, e volta disposta a se reconciliar com seu passado, encontrando o túmulo dos filhos e Nassreddine, seu marido, o homem que ela amou, e pai dos seus filhos. Ao chegar em Alger, ela conhece Jallal, menino de rua, que aceita guiá-la na sua busca. Só que agora, quarenta anos depois, a Argélia, vive um novo clima de terror, com a guerra civil.
Apesar do cenário ser trágico e violento, a beleza e ternura dos personagens faz do romance, uma agradável e emocionante aventura, que não conseguimos deixar de lado, até conhecer o final. E quando chegamos ao fim, nos deparamos com o enorme vazio que fica com a ausência de personagens tão queridos. Fácil de entender porque esse romance recebeu o prêmio Rachid Mimouni em 1999.