Não sei porque, existem alguns países que exercem em mim um fascínio especial, e a Polônia é um deles. Toda vez que chega a vez de um desses destinos fico na maior expectativa. Posso dizer que o livro escolhido, Senhorita Ninguém, primeiro romance de Tomek Tryzna, que também é roteirista e diretor de cinema, fez jus a esse fascínio.O livro também foi adaptado pra o cinema por Andrzej Wajda.
Marysia, a protagonista e narradora, é uma menina de 15 anos chegando a adolescência. Até então vivia no campo, em um barraco de apenas um cômodo, com os pais e os quatro irmãos menores. Além de frequentar a escola na pequena cidade de Jawiszów, ajudava a mãe na lavoura, a cuidar os irmãos e da casa. A educação que recebia, baseada nas tradições e na religião, e sua própria natureza, não permitia que discordasse dos pais, ainda que, nem sempre fosse fácil lidar com eles, sendo o pai alcoólatra, e a mãe obesa e fumante inveterada.
Depois que o pai, mineiro, recebe pelo seu trabalho um apartamento para morar, eles são obrigados a se mudar rapidamente, para evitar que seja invadido. O apartamento fica a 20 km de onde eles moravam, em Walbrzyech, cidade industrial e uma das 12 mais poluídas do mundo. Faltando apenas 2 meses para terminar o ano letivo, Marysia e os irmãos mudam de escola. As mudanças em Marsya, acontecem a medida que sua amizade com Kasia e Ewa, vai se aprofundando. As duas são ricas e excêntricas. Kasia, talentosa e precoce, questiona seus valores, como nesse trecho: “Não foi o padre que criou você, foi Deus. Ele criou você para que tentasse igualar-se a ele em sabedoria. mas, além de tudo, criou você para que você fosse livre, também livre dele, entendeu?” fazendo com que ela comece a pensar a vida de uma nova maneira. Com Ewa, transgressora, ela vai aprender a se rebelar e conhecer o sexo. E a medida que vai despertando para vida, vai se valendo de sua tendência para fantasia, para criar uma nova realidade. Tryzna, vai alternando os momentos da realidade cruel com os delírios de fantasia, no mesmo texto, sem demarcação. Um romance para nos fazer pensar.