Ao olhar a localização da Albânia no mapa, não dá para acreditar que seja um destino tão pouco explorado. Esse pequeno e montanhoso país, é banhado pelo Mar Adriático e está localizado entre Montenegro e a Grécia, dois destinos paradisíacos. Talvez sejam ainda os ecos da política de isolacionismo adotada pelo líder/ditador Enver Hoxha. Ele governou o país por quatro décadas, desde a segunda guerra mundial até 1985, fechando o país para o resto do mundo. Primeiro a Albânia retirou-se do Pacto de Varsóvia em 1968, e depois da morte de Mao Tsé-Tung, em final dos anos 70, perdeu o apoio da China, ficando cada vez mais isolados do mundo. Depois dos conflitos da década de 90, quando começaram a aparecer os partidos de oposição, e de muita luta, tornaram-se um país democrata. Toda essa luta contudo deixou sua marca, e o país ainda está se reerguendo. Atualmente, é um dos países menos desenvolvido da Europa.
Já o livro escolhido Abril Despedaçado, do albanês Ismael Kadaré, soa bastante familiar, pois foi o romance que inspirou o filme homônimo de Walter Salles, com Rodrigo Santoro. Como ainda não tinha visto o filme, deixei para assistir depois da leitura do livro.
A história baseia-se no Kanun, código moral, transmitidas oralmente, que rege todo o comportamento dos membros de cada vila, nas montanhas da Albânia, sendo mais poderoso que o próprio estado. Praticamente todos os assuntos da vida, estão previstos no Kanun, casamento, direito de propriedade, e o mais terrível de todos a vendetta, que é o direito de vingança. Se alguém de uma família, for ofendido ou morto, o membro da família que sofreu a ofensa tem o direito o matar outro membro da família agressora. No romance, o personagem de Gjorg Berisha, mata com um tiro de fuzil, Zef Kryeqyq, que havia matado seu irmão numa vendetta que já dura 70 anos. Ele sabe que de acordo com as leis do Kanun, sua vida não deverá ultrapassar o mês de abril, tendo ainda que usar uma faixa preta no braço. A partir de então, ele começa a refletir sobre a sua vida, e a falta de perspectiva ou escolha.
Apesar de ser bárbaro e cruel, uma prática inadmissível, principalmente porque existiu e talvez ainda existam famílias que observam esse costume, existe uma aura de honradez e dignidade, ao se respeitar acima de tudo, o amigo e a palavra dada. Embora o tema seja pesado, a leitura é fluente e agradável.