O país entrou na minha vida, através dos livros de Khaled Hosseini. Li primeiro O Caçador de Pipas, depois A Cidade do Sol, e por último O Silêncio das Montanhas. Dá para perceber que fiquei bastante tocada com a história do Afeganistão, marcada por invasões, guerras e conflitos religiosos, e como tudo isso refletiu em sofrimento para o povo, conforme pude acompanhar através das histórias dos personagens de Khaled Hosseini. Mas já estava na hora, de conhecer outros autores, então, para representar o Afeganistão no #198 livros o autor escolhido foi Atiq Rahimi, com Syngué Sabour pedra de paciência. Ele nasceu em Cabul, Afeganistão, em 1962. Estudou em colégio francês e formou-se em letras na universidade de Cabul. Trabalhava como jornalista, e participava dos meios literários e artísticos locais, até fugir para o Paquistão durante a guerra no início da década de 80. Vive atualmente, como refugiado político na França desde 1985, onde fez estudos cinematográficos nas Universidades de Rouen e La Sorbonne Nouvelle.
Syngué Sabour, foi escrito originalmente em francês, publicado em mais de 30 países e recebeu o prêmio Goncourt em 2008. O livro foi inspirado e dedicado a sua amiga, a poeta afegã Nadia Anjuman. Ele havia sido convidado por ela, para um evento literário em Cabul, e ao chegar, descobriu que ela estava morta, devido a “causas familiares”. Investigando descobriu que ela fora espancada até a morte pelo marido, com a conivência da mãe, pois discordavam de seu modo de vida, muito liberal para eles.
Syngué em persa quer dizer “pedra” e sabour “paciente”, e de acordo com a mitologia persa, é uma pedra negra mágica que recebe dos peregrinos suas dores e lamentos. Quando a tristeza se tornar excessiva, ela explode libertando a pessoa de seus tormentos. No romance, a protagonista é uma mulher afegã, cujos marido vegeta em consequência de uma bala que se alojou na cabeça. São praticamente os únicos a viverem no bairro, que foi evacuado por causa da guerra, e eles permaneceram devido a impossibilidade de remoção do marido, no estado em que se encontra. A medida que o tempo passa, sem que nenhuma mudança ocorra no estado de saúde do marido, ela vai se desesperando, enquanto espera por um milagre. E pouco a pouco, vai conversando com ele, narrando pequenos detalhes da vida em comum, sentimentos de toda uma vida, num exercício que jamais lhe seria permitido não fosse o estado do marido. A medida que vai desabafando, sente que vai se libertando e vai avançando nas confidências, narrando segredos que jamais poderia num país islâmico. Até quando a pedra vai aguentar até explodir? Me senti como se estivesse olhando a vida dela através de uma janela, uma vida absurda e improvável. É um livro pequeno, mas muito intenso.