Que a Coréia do Norte, era uma ditadura, e um dos países mais fechados do mundo, eu já sabia, por isso conhecer como acontece a vida por lá, parecia uma tarefa quase impossível de realizar. Mas graças ao relato auto-biográfico de Kang Chol-Hwan, em seu livro Les Aquariums de Pyongyang, consegui abrir um pouco a caixa preta da Coréia do Norte.
Neste livro, Kang, relata como era sua vida na Coréia do Norte, do nascimento até a fuga para a Coréia do Sul, onde vive até hoje. Até os nove anos, ele vivia uma vida tranquila e feliz em Pyongyang, com sua família, pois este era o universo que ele conhecia, e achava até que o Grande Líder, Kim Il-Sung dava proteção e cuidava dos coreanos. Os avós de Kang haviam emigrado para o Japão, muitos anos antes, em busca de melhores condições de vida, no período em que a Coréia era colônia do império japonês(1910 a 1045). No Japão, o avô fez fortuna e eles viviam bem, até Kim Il-sung assumir o poder no país, em 1948. A avó dele, que era militante do partido comunista, ficou ansiosa para retornar a terra natal, e apesar do avô não compartilhar da ideia, a vontade da avó prevaleceu e terminaram voltando. No início, o governo dava apoio e respeitava os que haviam retornado do Japão, mas pouco a pouco foram se apossando dos bens e da liberdade de todos de sua família, mesmo o avô tendo doado sua fortuna para o partido. Até que um dia o avô desaparece, e descobrem que ele havia sido preso por ser considerado traidor da pátria. Logo em seguida a família é levada para o campo de trabalhos forçados de Yodok, onde são mantidos os opositores políticos do regime. Na verdade eles são considerados culpados por associação, por serem parentes do “criminoso”.
É chocante o relato de Kang sobre o que foi a vida dele nos dez anos que viveu em Yodok, na verdade como sobreviveu a fome, frio, maus tratos, torturas físicas e psicológicas, humilhações, etc. Depois de 10 anos eles foram libertados, segundo Kang, seria a morte do avô uma das razões. Outra possibilidade seria as inúmeras petições da família que morava no Japão, em busca de informações, daqueles levados para o campo, recebendo sempre a mesma resposta de que estariam viajando. Essa situação vivida por muitas famílias, havia sido tema de um programa de televisão no Japão. Mesmo fora do campo, a vida continuava sob vigilância, e inúmeras restrições. Kang sabe que existe outra realidade fora da Coreia do Norte, e anseia por descobrir como é a vida lá fora. E é escutando outras estações de rádio, não permitidas pelo governo, que acaba sendo denunciado. Percebendo que existe a possibilidade de voltar para o campo, resolve arriscar tudo e fugir do país. Sua grande preocupação além de salvar a própria pele é denunciar os crimes cometidos contra o povo coreano. É muito triste saber que tudo que está no livro não é ficção, são fatos reais. Sempre gosto de aprender sobre outros povos, mas nesse caso, não sei se foi melhor conhecer essa realidade e não poder fazer nada.