Foi no século XV, em 1474, que Lopes Gonçalves, navegador português, a serviço do explorador, também português, Fernão Gomes, chegou a costa entre os rios Komo e Ogooué. Nos anos seguintes, estabeleceram um entreposto comercial, no estuário do Rio Komo, e batizaram com o nome de Gabão por lembrar a forma de um casaco, tipo sobretudo, usado em Portugal. Não chegaram a colonizar, apenas exerciam o comércio de escravos, madeira e marfim, com os nativos. No século XVI, chegaram os outros europeus, também comerciantes; holandeses, britânicos e franceses, sendo que estes últimos, assumiram o status de “protetor” dos nativos, depois de assinar tratados com as tribos locais, em 1839 e 1841. No ano seguinte, missionários nortes americanos, da Nova Inglaterra fundaram uma missão no estuário do rio Komo, e em 1849, a França apreende um navio de escravos ilegal, libertando-os. Os escravos libertos, fundaram um povoado, chamando-o de Libreville, (cidade livre em português), atual capital do país. Após a independência do país em 1961, Leon M’Ba, é eleito o primeiro presidente, governando até 1967, quando morre, e quem assume o poder é o seu vice, Omar Bongo, que governará o país de forma autoritária até a sua morte em 2009. Quem o sucede, é o filho, Ali Bongo, em eleições duvidosas, e permanece no poder até os dias de hoje. A título de curiosidade, descobri que o país tem a maior população de elefantes do mundo, e 85% do território é composto por florestas.
Daniel Mengara, autor do romance escolhido Le Chant des Chimpanzés, nasceu em 1967, em Minvoul, pequena cidade no norte do Gabão. Fez seus estudos no Gabão, na França e nos Estados Unidos, onde mora atualmente. É professor de literatura africana e antilhana de língua francesa, na Universidade de Montclair, em Nova Jersey, Estados Unidos. É autor de outros romances, sendo este seu primeiro romance escrito em francês. e também é líder do partido BDP-Gabon Nouveau, movimento político ativista de oposição que trabalha pela democratização do Gabão.
Le Chant de Chimpanzés conta a história de um menino de dez anos, que sobrevive ao extermínio de sua família, escondido debaixo de uma cama. Dez anos depois descobre que seu pai está vivo, prisioneiro secreto do Grande Camarada, ditador do fictício país de Bibulu. De alguma maneira, seu pai faz chegar até ele uma carta, e a partir daí, pai e filho iniciam uma correspondência clandestina, onde inicialmente se atualizam sobre os próprios destinos, e tudo que tiveram que fazer para sobreviver. E assim, vamos conhecendo toda a história do pai e do filho, dos costumes do povo, das tradições familiares, e do país subjugado por um ditador violento e inescrupuloso. Pouco a pouco, através de questionamentos filosóficos, sobre o mal que arruina a África, o jovem, com a ajuda do pai, vai tomando consciência, de sua responsabilidade nos destinos do pais. Trata-se de um romance quase autobiográfico, e muitas vezes, me questionei, dos riscos que ele deve ter corrido, ao publicar esse livro. É uma história forte, mas escrita primorosamente, que não nos deixa parar a leitura.