Atualmente a Somália é um dos países onde mais se registram ataques terroristas no mundo, e segundo um estudo feito em 2017, o país integra uma lista de 10 países, onde ocorre 75% desses ataques. O último ataque terrorista registrado no país, em outubro de 2017, considerado o mais mortal de todos, deixou mais de 300 mortos e 400 feridos. O país tem uma história tumultuada, marcada por intermináveis conflitos, externos e internos. No período em que se inicia o romance, escolhido para representar o país no projeto, a Somália vive os últimos dias de uma ditadura militar, iniciada com o golpe, de 21 de outubro de 1969, liderado pelo general Mahammad Siad Barre. Mas estamos em 1987, e diferentes grupos de facções internas começam a se fortalecer, e iniciam uma revolução que irá depor o governo dos militares, em janeiro de 1991.
O pomar das almas perdidas, de Nadifa Mohamed, é ambientado na cidade de Hargeisa, as vésperas da invasão da cidade, pelos rebeldes, e conta a história de três mulheres, de diferentes gerações. Deqo, Filsan e Kawsar, se encontram pela primeira vez no estádio, onde se comemora o aniversário da revolução que colocou os militares no poder. Deqo, uma menina órfã, de 9 anos, vive num campo de refugiados, onde nasceu, sem saber quem foram seus pais, e foi ao estádio na esperança de ganhar seu primeiro par de sapatos; Filsan, é uma jovem e ambiciosa soldado, transferida de Mogadíscio, a capital, para Hargeisa, para ajudar a reprimir a rebelião vinda do norte; e Kawar, uma viúva triste, que vive só depois de perder o marido e a filha adolescente. Depois do primeiro encontro das protagonistas, quando Kawsar é presa e espancada por Filsan, ao tentar defender Deqo, da injustiça de ser punida, por errar a coreografia, suas vidas seguem caminhos distintos até o próximo encontro. Através de suas trajetórias de vida sofridas, em meio ao caos que vai se instalando na cidade, vamos aprendendo sobre a vida e cultura do povo somali, enquanto elas vão aprendendo sobre a alma humana, e se transformando com este aprendizado. Uma agradável leitura, que conta uma triste história.