Não sabia quase nada sobre o Timor Leste, apenas que lá se falava português e que a independência era recente. Como sempre minhas pesquisas me levaram um pouco mais adiante. De fato, ele é um jovem país, acho que o mais jovem do mundo, além de muito pequeno. Está localizado na parte oriental da ilha de Timor, no Sudeste Asiático. Foi colônia de Portugal do século XVI, até 1975, quando teve sua independência declarada. Após a saída de Portugal, a Indonésia invadiu e anexou o país ao seu território, transformando o Tímor em sua 27ª província. Durante o período de ocupação da Indonésia, que durou até 2002, quando o país conseguiu restaurar a independência, os timorenses viveram um pesadelo. Um clima de terror se instalou no país, a população foi massacrada, fala-se inclusive em genocídio, quase um terço da população foi exterminada. Nesse período o uso do português foi proibido e o tétum desencorajado, além de serem intimidados a professar uma religião, sob pena de serem considerados comunistas. Até então, o catolicismo era a religião do estado e da elite, mas diante das circunstâncias, se vendo forçados a decidir, a escolha recaiu sobre o catolicismo, já conhecido, em oposição ao islamismo dos indonésios. Hoje 90% da população se declara católica, apesar do ocultismo das religiões étnicas ainda ser muito forte, sendo essa coexistência entre a prática do catolicismo e de outras religiões uma característica cultural do país. Nesse período, a igreja assumiu também um papel importante de estrutura social e de poder.
A história do escritor timorense Luis Cardoso, no seu livro Olhos de Coruja Olhos de Gato Bravo, é ambientada nesse mundo. Não no mundo de terror criado pelos indonésios, mas nesse mundo surreal e fantástico, que parece fazer parte da cultura do país. Nele, a história de Beatriz e sua família, é narrada por ela mesma, de uma forma tão envolvente que não conseguimos parar de ler. O nascimento de Beatriz desestruturou a família, tanto por ser inesperado e tardio, como pelo tamanho dos seus olhos, que pareciam enxergar demais. Os personagens, e membros da família de Beatriz, entram e saem do enredo, sem pedir licença, nem dizer adeus. Não tenho certeza se a intenção do autor foi fazer uma alusão indireta a história do país, já que a luta pela independência só é mencionada no final. Mas com certeza muito dos costumes do Timor estão bem retratados no livro; as tradições familiares, o costume de mascar uma mistura de areca, bétel e cal virgem, a briga de galos, a figura dos grandes homens, o poder da igreja católica, e principalmente o sobrenatural. Uma grande viagem.
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