Comores

                   foto (6)Saí de uma ilha para outra, da Ásia para a África, mas enquanto Timor Leste é apenas parte de uma ilha, Comores faz parte de um arquipélago.  A União dos Comores é uma república federal islâmica que compreende três (Grande Comore, Mohéli e Anjouan), das quatro ilhas principais do arquipélago das Comores, localizado ao norte do canal de Moçambique, no Oceano Índico. O país só ficou independente da França em 06 de julho de 1975, após um domínio de mais de um século. Anteriormente havia sido colônia islâmica, entre o século IX e XIX. Esse grande período de domínio árabe deixou marcas na cultura da ilha, 98% da população são muçulmanos contra 2% das outras religiões. A influência dos colonizadores também se faz sentir no idioma, havendo nada menos que três idiomas oficiais: árabe, francês e shikomor. No romance de Mohamed Toihiri, Le Kafir du Karthala, dá para conhecer muito da cultura de Comores e imaginar a beleza das ilhas. O “Karthala” mencionado no título, é um vulcão ativo, perto da capital, considerado o ponto mais alto de Comores, e o “Kafir” pode ter diferentes siginificados, tanto pode ter o sentido de “infiel” para o Corão, “negro” na África do Sul e “marginal” nos Comores. Sendo a simbologia utilizada pelo autor para representar a questão moral do seu protagonista.

                   O livro conta a história de Mazamba, iniciando-se no exato momento em que ele recebe a notícia que é portador de um tumor maligno e tem pouco tempo de vida. Refeito do choque inicial, toma a decisão de não contar a ninguém sobre a doença, e encontrar um sentido para sua morte. Até então, Dr Idi Wa Mazamba, vive em Moroni, capital do país, exercendo a medicina depois de ter estudado na França. No exercício da medicina ele convive de perto com a diferença de classes e má distribuição de renda. Ele é um nacionalista que ama seu país e suas origens, mas que se sente incomodado com alguns costumes locais e com a corrupção que domina o país, liderada principalmente pelos PG “partenaire généreux” europeus que controlam o país.  Com a proximidade da morte, Mazamba sai da inércia em que vivia e se liberta das amarras sociais. Livre, para viver suas emoções, ele vai se envolver com uma professora francesa, judia e “branca”, e vivenciar o amor pela primeira vez, apesar de ser casado já alguns anos. Essa liberdade também vai lhe permitir agir de acordo com suas convicções. Ao longo do livro, por meio das experiências de Mazamba, vamos conhecendo a cultura do país: O grande casamento ou Anda, em shikomor, grande evento, momento de afirmação social, tanto para o homem como para a mulher; bangano, disputa pública na qual os participantes tentam marcar pontos, cada vez que humilham o adversário por meio da revelação dos segredos, seus e de sua família; as brincadeiras e cantigas infantis; a bruxaria que se pratica na ilha, e por aí vai. O romance tem uma leitura gostosa, que não nos deixa largar o livro. Uma delícia de viagem.

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