Finalmente cheguei à Sérvia, o quinto país que leio dentre os que fizeram parte da Iugoslávia. Com exceção do livro de Montenegro, todos os outros abordavam o tema da guerra da Bósnia ocorrida entre 1992 a 1995, iniciada após a queda do regime comunista na antiga Iugoslávia. Até então, não tinha muito simpatia pela Sérvia, pela participação que teve na Guerra da Bósnia, e sua responsabilidade no massacre de Srebrenicajá, reconhecidamente considerado genocídio, e pelo massacre de Vukovar, na Croácia. Mas a humanidade evolui – assim desejamos – e em março de 2010, o Parlamento Sérvio pediu desculpas às famílias das vítimas. Além do mais, a história da Sérvia, começa no século I antes de Cristo, e desde então, milhares de sérvios fizeram sua história e não é justo que uma minoria, e suas decisões erradas, venha a representar milhões.
Escolhi o romance de Milorad Pávitch, Paisagem Pintada com Chá, publicado em Belgrado, em 1988, e no Brasil, pela Companhia das Letras, em 1990. Foi traduzido diretamente do servo-croata para o português por Aleksandar Jovanovic. Milorad nasceu em Belgrado em 1929, era poeta, romancista, tradutor, estudioso da história da literatura, professor da Faculdade de Filosofia da cidade de Novi Sad(Sérvia) e Universidade de Belgrado, além de membro da Academia Sérvia de Ciências e Artes. Morreu em 2009, aos 81 anos.
O romance conta a história do arquiteto Atanássiie Svilar, fracassado financeiramente, já que não teve nenhum de seus projetos executados, mais brilhante em idéias, a partir da sua decisão de descobrir o que aconteceu com seu pai, Kosta Svilar. Kosta haviadesaparecido na segunda guerra mundial, às vésperas da libertação, em algum lugar da Grécia, quando deixaram de receber notícias suas. Na verdade, ele vai em busca de si mesmo, e termina perdendo a identidade. “Afinal, inexiste uma fronteira rígida entre o passado – que vai crescendo, porque se nutre do presente – e o futuro – que, segundo tudo indica, não é inesgotável, nem é ininterrupto, mas vai definhando e manifesta-se aos golpes, em algum lugar.” Situado em plena transição política do Leste europeu, abrange o período que vai da Segunda guerra, governo de Tito e seu final, até o período anterior a era Gorbatchev. A narrativa da saga do arquiteto, dá origem a outras histórias, de personagens interligados, suas paixões, todas fantásticas, onde ele mistura ficção e realidade, mito, história e realismo mágico: “Porque todas as coisas conhecidas deste mundo representam a metade das coisas, e elas tentam aprender a respeito daquela metade invisível e divina, daquela que não conseguimos alcançar nem conhecer.” O autor organizou o livro num esquema de palavras cruzadas, a horizontalidade da intriga cruzando-se com a verticalidade do destino dos personagens.
Adorei a leitura, o tipo do livro que você tem que parar para pesquisar, e aprende muito. Foi assim que conheci o Monte Atos, uma montanha e península na Grécia, patrimônio mundial da UNESCO e chamada de montanha sagrada pelos gregos, pois abriga 20 mosteiros. Fiquei fascinada pela montanha sagrada, fascínio que virou decepção ao saber que é um dos poucos lugares do mundo onde é proibido a entrada de mulheres.